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Folhas cahidas, apanhadas na lama por um antigo juiz das almas de Campanhan By: Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco (1825-1890) |
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APANHADAS NA LAMA, POR UM ANTIGO JUIZ DAS ALMAS DE CAMPANHAN, E SÓCIO ACTUAL DA ASSEMBLEA PORTUENSE, COM EXERCICIO NO Palheiro .
OBRA DE QUATRO VINTENS , E DE MUITA INSTRUCÇÃO,
PORTO: TYPOGRAPHIA DE F. G. DA FONSECA, Rua das Hortas n.º 152 e 153. 1854.
EU.
Saibam todos quantos virem
Este publico instrumento,
Que surgiu mais um poeta
Nos aloques do talento.
Não pertenço á mocidade,
Que fechou sem caridade
Da velhice a pobre tumba.
Não sei palavras d'estouro,
Nem descanto em lyra d'ouro:
Minha lyra é um zabumba. Eu, sou eu. Juiz das Almas,
Nos bons tempos, que lá vão,
Conheci que tinha uma
Como poucas almas são...
Campanhan! terra dos saveis!
Que doçuras inefaveis
Tens nos teus prados amenos!
Ai! Maria da Cancella!...
Cada vez que fallo n'ella,
Sou Petrarcha... em fralda, ao menos! Dai logar á catarata
D'uma lagrima que rola
Pelas faces, como orvalho
A aljofrar uma papôla,
Respeitai a desynth'ria
Desta enferma poesia,
Que resiste á Revalenta!
Braz Tisana , esse que diga,
Em que estado anda a barriga
Da Musa, nos seus outenta! Deixai que um velho recorde
Aureos sonhos infantis!..
Campanhan, mansão das fadas
Onde estão tuas houris?
Ledas brisas que brincaveis
Entre as pestanas dos saveis,
Lindos saveis de coral!
Onde estaes, em que paues
Murmuraes, auras tafues,
Vosso hymno angelical! Raios palidos da lua
Alta noute, em ceo d'anil,
Já não são os que argentavam
Estes lagos de esmeril!
Nem é este o pulcro savel
Que me deu sorriso afavel
D'entre os verdes salgueiraes!
Nem aqui meu peito anceia
Os carinhos da lampreia
(E outras asneiras que taes). Quando eu era o mago enlevo
Das fadas de Campanhan,
Apanhava a borboleta,
Que doudejava louçan.
E, por tardes d'almo estio,
Lá nas margens do meu rio
Vi delicias de encantar....
Pyrilampos, suspirando,
Qual Camoens suspira arfando
Os estos do seu penar. Ai! trovas da minha aldeia,
Que saudades me doeis!
Doçuras da minha vida,
Quando eu cantava os reis!
Viola d'Antonio Pinto,
Onde estás, que inda cá sinto
O gemer dos teus bordoens!
Minhas chinelas côr d'ovo,
E meu par de sócos novo,
Tão rico d'inspiraçoens! Lá vai tudo! E minha alma
Erma, esteril, sinto aqui....
Como o lyrio enruga o calix
A fronte calva pendi!
Poeta da lyra amarga,
Vérgo ao peso desta carga
De descrença e maldição!
Lacerado em meu orgulho,
Quero o sangue, o serrabulho
Desta infame geração! E, depois que a minha lousa
Parta d'um raio a centelha,
Hão de ouvir ranger meus ossos
Como carruagem velha.
E a mortalha ensanguentada
Como a tunica manchada
Do Cesar de Campanhan,
Ha de ser mostrada ao povo,
Ha de ouvir se um grito novo
Nas praias do Gengis kan!
AOS BAROENS.
Amigos! sinceridade!
Não sejamos todos tolos;
Deixai vêr os vossos rôlos
De brasoens.
Ninguem disse ainda ao certo
Onde vão, donde vieram
Os baroens. Dizem velhos alfarrabios
Que os baroens da idade d'ouro
Davam tapona de mouro,
Fanfarroens!
Nesse tempo eram crusados ,
Hoje fogem dos cruseiros ,
Os baroens. Os de então na Palestina
Eram rijos e potentes;
Mas os d'hoje são valentes
Nos certoens.
Quem domina as vastas tribus
Dessas plagas africanas?
Os baroens. Quem envia, mar em fora,
As esquadras dos Trajanos ,
D'archejantes e ufanos
Galeoens?
Quem envia Guerra aos barbaros,
E lhe algema os pulsos livres?
Os baroens.
Digam lá o que disserem
Contra os crusados da moda,
Sois os grandes deste reino,
Meus baroens!.. sabeil a toda! «Carne humana!! escravaria!!!
Crime atroz!!!!» são palavroens.
Chia a imprensa? ha de calar se...
Sabeil a toda, baroens! Vossos pais quando vieram
De Figueiró para aqui,
Quem diria... vendo vil os
Como eu chegal os vi!.. Era assim: via se um mono
De jaqueta de cotim,
E calças de estopa grossa
E pernas côr do carmim. Trazia sócos ferrados,
Em que pés!.. Deus nos accuda!..
Lenço vermelho amarrado
Na cabeça ponteaguda. Vosso avô vinha com elle,
E gemia derreado
Sob um saco de batatas
Do patrão mimo adorado... Continue reading book >>
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