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Lendas do sul By: João Simões Lopes Neto (1865-1916) |
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1913
Echenique & C. Editores
Pelotas NOTA Convém recordar que o primeiro povoamento branco do Rio Grande do
Sul foi espanhol; seu poder e influencia estenderam se até depois da
conquista das Missões; provém disso que as velhas lendas rio
grandenses acham se tramadas no acervo platino de antanho. Vem da Ibéria, a topar se com a ingênua e confusa tradição
guaranítica (v. g. a lenda da Mboi tátá) a mescla cristã árabe de
abusões e misticismo; dos encantamentos e dos milagres; desses
elementos, confundidos e abrumados ( p. ex. a salamanca do serro do
Jarau ), nasceram idealizações novas e típicas adaptadas ou
decorrentes do meio físico e das gentes ainda na crassa infância das
concepções.
E, como entre conquistadores brancos corria intensa e rábida a febre
da riqueza o sonho escaldante do El Dorado a fulgir nas areias
e nos cascalhos, espadanando das entranhas misteriosas e apojadas do
Novo Mundo, a preponderante vivaz das suas ficções é sempre a
imantada ânsia pelo ouro!, forte sobre a dor e a própria morte... Com a entrada dos mamelucos paulistas outras e doutra feição vieram
do centro e norte do Brasil: o saci, o caápora, a oiára,
que esfumaram se no olvido. Por último uma única se formou já entre gente lusitana
radicada e a incipiente, nativa: a do Negrinho do pastoreio.
A estrutura de tais lendas perdura; procurei delas dar aqui uma
feição expositiva literária e talvez menos feliz como
expressão da dispersa forma porque a ancianidade subsistente
transmite a tradição oral, hoje quase perdida e mui confusa: ainda
por aí se avaliará das modificações que o tempo exerce
sobre a memória anônima do povo.
A MBOI TÁTÁ
A Andrade Neves Neto
Meu caro Simões L. Neto Agradeço não me haveres esquecido com a tua amizade e com o teu
talento. A lenda da boi tátá , também conhecida dos nossos
sertanejos, com variantes que muito a diferençam da que escreveste,
deve figurar no folk lore gaúcho, onde já cintila, acesa por ti,
a velinha do Negrinho do Pastoreio, à cuja claridade puseste meu
nome. Prossegue, porque fazes trabalho de valor e muito me alegro
por haver insistido com a tua modéstia para que continuasses a
colher, aqui, ali, essas flores eternas da Poesia do povo, fazendo
com elas o ramo que será um encanto para todas as almas
e gloria para o teu nome. Abraço te teu Coelho Neto
Rio 20 XI 09
A MBOI TÁTÁ I
Foi assim: num campo muito antigo, muito, houve uma noite tão comprida que
pareceu que nunca mais haveria luz do dia. Noite escura como breu, sem lume no céu, sem vento, sem serenada e
sem rumores, sem cheiro dos pastos maduros nem das
flores da mataria. Os homens viveram abichornados, na tristeza dura; e porque churrasco
não havia, não mais sopravam labaredas nos fogões e passavam comendo
canjica insossa; os borralhos estavam se apagando e era preciso
poupar os tições... Os olhos andavam tão enfarados da noite, que, ficavam parados, horas
e horas, olhando sem ver as brasas vermelhas do nhanduvái... as
brasas somente, porque as faiscas, que alegram, não saltavam,
por falta do sopro forte de bocas contentes. Naquela escuridão fechada nenhum tapejara seria capaz de cruzar
pelos trilhos do campo, nenhum flete crioulo teria faro nem ouvido
nem vista para bater querência; até nem sorro daria no seu próprio
rastro! E a noite velha ia andando... ia andando... II
Minto: no meio do escuro e do silêncio morto, de vez em quando, ora duma
banda ora doutra, de vez em quando uma cantiga forte, de bicho
vivente, furava o ar; era o téu téu ativo, que não dormia desde o
entrar do último sol e que vigiava sempre, esperando a volta do sol
novo, que devia vir e que tardava tanto já... Só o téu téu de vez em quando cantava; o seu quero quero!
tão claro, vindo de lá do fundo da escuridão, ia agüentando a
esperança dos homens, amontoados no redor avermelhado das brasas... Continue reading book >>
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