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Manifesto anti-Dantas e por extenso por José de Almada Negreiros poeta d'Orpheu futurista e tudo By: José Sobral de Almada Negreiros (1893-1970) |
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ANTI DANTAS E POR EXTENSO POR JOSÉ DE ALMADA NEGREIROS POETA D'ORPHEU FUTURISTA E TUDO
ESTE
Manifesto não teria sido possível sem Marinetti. Sem o clima
de insurreição contra as belas letras cultivadas pelas academias,
naquele ambiente morno em que as imagens sediças têm um viço
de esmalte e de pintura à pistola. Sempre esses cenáculos em que pontificam caducos literatos
de graves ademanes senis e de frases brunidas, medidas pelo
diapasão dos clássicos que o tempo ressequiu, foram considerados
os templos da Literatura e da Arte consagrada e definitiva. Sempre também os que vieram ao mundo com algo para dizer de
novo, reagiram contra esses colégios de eruditos e de artistas
aposentados na glória, essa glória capitalizada em duas ou
três obras de sofrível sucesso, elevadas pelo panegirico dos
confrades do elogio mútuo a sensacionais obras primas de
expressão mundial. Mas escola nenhuma rompera tão desabridamente com as reverências
do velho mundo das letras, refugara as glórias da tradição
e da vida oficial, como esse Futurismo, que Marinetti projectara
no mundo, com o ardor, a combatividade, a diabólica juventude
dum libertário. A Civilização material representada pelo industrialismo, a
potência criadora do homem vista através das energias mecânicas,
o dinamismo e a vertigem como expressão dum novo estado de
alma trouxeram novos ritmos à epopeia através do verbo poético
de Whitman, o grande poeta da democracia, e de Verhaeren, o
cantor das grandes urbes tentaculares, em que a vida ganha
uma expressão colectiva, como até aí só episòdicamente alcançara
nos breves momentos das cruzadas ou das expedições militares. Mas é o Futurismo que proclama a revolta do homem. E porque
é muito mais um acto de rebelião e, portanto, um acto impossível
de controlar racionalmente, do que um movimento literário ou
estético que trás, por adição, ao património literário uma
contribuição nova, no seu âmago estuam todas as contradições
e germinam os grandes conflitos que pirotècnicamente deflagraram
depois sobre o mundo, ensombrando de inquietação a face do
nosso tempo. O futuro militante fascista, ali apregoa o valor purificador
e criador da guerra, o desdém da civilização pacífica e de
todos os seus acentos femininos e cristãos. É a tuba sonora
da vertigem e da luta. A linguagem adquire um valor novo lançada
em combinações extravagantes e brutais, alheias à sintaxe e
à lógica do discurso. São balas. São pedras. São gritos. Balas,
pedras e gritos que aumentam de rumor na medida em que as
letras aumentam de tamanho. O clima espiritual de Marinetti ninguém o traduziu melhor
que Almada Negreiros. Ele foi o melhor cartaz do modernismo
em Portugal. Sá Carneiro era um esteta de ritmos prismáticos, em que a luz
se decompunha em florescências decadentes e subtis. Era por
assim dizer, uma bandeira heráldica, oirescente e escandalosa. Fernando Pessoa toma para si o papel de mentor intelectual.
Há sempre um sentido oculto nas suas criações literárias.
Sempre lhe preside uma ideia. Sempre procura opor ao que está
uma filosofia, uma mentalidade ou até uma nova humanidade. Santa Rita figura de precursor, e como tal, é um impulso que
se deixa de realizar em si para se realizar nos outros. Almada é a trombeta do cortejo. Salta à frente, com este
estridente manifesto literário, em que o escândalo rebenta
por todas as linhas, salta à frente com teatralidade dos seus
gestos, dos seus gritos e dos seus atentados ao gosto e aos
hábitos do senhor toda a gente, hábitos de trajar, de pensar,
de fazer versos, de ser funcionário público e de ter descendência
linfática. Destapa a careca dos burgueses, ri se da sua literatura sem
noviade, sem imaginação, hipócrita e probremente sexual, do
seu lirismo requentado, da sua política de labita, do seu
jornalismo sem agitação, da sua arte andrajosa e quase litográfica,
da sua moral caricata, amarrada estreitamente ao cadáver dum
mundo que se afundava na cova, ruído de reumatismo... Continue reading book >>
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