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Miragaia Romance Popular By: João Batista da Silva Leitão de Almeida Garrett (1799-1854) |
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ROMANCE POPULAR PELO A. DE ADOZINDA, BERNAL FRANCEZ, ETC. ILLUSTRAÇÕES DOS SRS. BORDALLO E COELHO.
LISBOA TYP. DA SOCIEDADE PROPAGADORA DOS CONHECIMENTOS UTEIS LARGO DO PELOURINHO N.º 24. MDCCCXLIV.
Quando dei ésta bagatella aos Srs. Editores do JORNAL DAS BELLAS ARTES para
encherem algum vão que lhes sobrasse n'aquella tam linda e tam elegante
publicação, escrevi, a um canto do proprio rascunho original que não tive
paciencia de copear, as seguintes palavras: «Este romance é uma verdadeira reconstrucção de um monumento antigo.
Algumas coplas são textualmente conservadas da tradição popular, e se
cantam no meio da historia rezada , ainda hoje repetida por velhas e
barbeiros do logar. O conde D. Pedro e os chronistas velhos tambem fabulam
cada um a seu modo. O auctor, ou, mais exactamente, o recopilador, seguiu
muito pontualmente a narrativa oral do povo, e sobretudo quiz ser fiel ao
stylo, modos, e tom de cantar e contar d'elle; sem o quê, é sua íntima
persuasão que se não póde restituir a perdida nacionalidade á nossa
litteratura.» O postscriptum, servindo de nota ou commento, sahiu impresso no primeiro
número do referido jornal com os dois primeiros cantares do romance, e foi
ampliado com algumas observações por extremo lisongeiras dos Srs. Editores,
a quem tomára eu auxiliar como elles merecem por sua gentil imprêza, que é
a mais bella e das mais uteis que se teem commettido em Portugal. Devo ao seu favor, não so o terem adornado a minha MIRAGAIA com as suas
graciosas gravuras em madeira que todos teem admirado, mas o permittirem
que fizesse com ellas ésta pequena edição em separado com que quero brindar
alguns amigos apaixonados, como eu, de nossas antigualhas populares. É uma folha avulsa do meu ROMANCEIRO GERAL cujo primeiro volume ja está em
podêr do público; e lá será reposta em tempo e logar conveniente. Foi das primeiras coisas d'este genero em que trabalhei; e é a mais antiga
reminiscencia de poesia popular que me ficou da infancia, porque eu abri os
olhos á primeira luz da razão nos proprios sitios em que se passam as
principaes scenas d'este romance. Dos cinco aos dez annos de edade vivi com
meus paes n'uma pequena quinta, chamada o «Castello », que tinhamos áquem
Doiro, e que se dizia tirar esse nome da vizinhança das ruinas do antigo
castello mourisco que alli jazem perto. Com os olhos tapados eu iria ainda
hoje achar todos esses sitios marcados pela tradição popular. Muita vez
brinquei na fonte do rei Ramiro, cuja água é deliciosa com effeito; e
tenho idêa de me ter custado caro, outra vez, o imitar, com uma gaita da
feira de San'Miguel, os toques da bozina de S. M. Leoneza, impoleirado eu,
como elle, n'um resto de muralha velha do castello d'elrei Alboazar: o que
meu pae desapprovou com tam significante energia, que ainda hoje me lembra
tambem. Assim ólho para ésta pobre Miragaia como para um brinco meu de criança que
me apparecesse agora; e quero lhe que mal ha n'isso? quero lhe como a
tal. Não a julguem tambem por mais, que o não vale. Lisboa 24 de Janeiro 1844.
MIRAGAIA
I Noite escura tam formosa,
Linda noite sem luar,
As tuas estrellas de oiro
Quem n'as poderá contar! Como as folhinhas do bosque,
Como as areias do mar...
Em tantas lettras se escreve
O que Deus mandou guardar. Mas guai do homem que se fia
N'essas lettras decifrar!
Que a ler no livro de Deus
Nem anjo póde atinar. Bem ledo está Dom Ramiro
Com sua dama a folgar;
Um perro bruxo judio
Foi causa de elle a roubar: Disse lhe que pelos astros
Bem lhe podia affirmar
Que Zahara, a flor da belleza,
Lhe devia de tocar. E o rei veio de cilada
D'além do Doiro passar,
E furtou a linda moira,
A irman d'Alboazar. A Milhor , que é terra sua
E está á beira do mar,
Se acolheu com sua dama,
Nem de mais sabe cuidar. Chora a triste da rainha,
Não se póde consolar:
Deixá la por [~u]a moira
Deixá la com tal dezar! E a noite é escura cerrada,
Noite negra sem luar,
Sosinha no seu balcão
Assim se estava a queixar: «Rei Ramiro, rei Ramiro,
Rei de muito mau pezar,
Em que te errei d'alma ou corpo,
Que fiz para tal penar? «Diz que é formosa essa moira,
Que te soube infeitiçar... Continue reading book >>
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