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O doido e a morte By: Teixeira de Pascoais (1877-1952) |
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O DOIDO E A MORTE
Edição da
Renascença Portuguesa
Pôrto 1913
O DOIDO E A MORTE
OBRAS DO AUTOR
Sempre 1897
Terra Prohibida 1899
Sempre (2.^a edição) 1902
Jesus e Pan 1903
Para a Luz 1904
Vida Etherea 1906
As Sombras 1907
Senhora da Noite 1908
Marános 1911
Regresso ao Paraiso 1912
O Espírito Lusitano ou o Saudosismo 1912
TEIXEIRA DE PASCOAES
O DOIDO E A MORTE
Edição da
Renascença Portuguesa
Pôrto 1913
Impresso em Fevereiro de 1913
na Tipografia Costa Carregal,
trav. Passos Manuel, 27 Pôrto.
A Philéas Lebesgue
Era uma fria noite de Natal.
Já no zenith a lua derramava
A sua palidez misteriosa,
Transfigurando as cousas que se mostram
Na sombra, com seus gestos de Phantasma
E atitudes de estranha Aparição... Nos solitarios longes montanhosos
A nevoa e o luar, chimericos, deliam
A moribunda face da Paisagem...
E esta, por um milagre e encantamento,
Se espiritualisava, convertendo se
Em Figuras de sonho, aéreos Corpos...
E eram perfis de Fadas espreitando,
Asas de Serafins que, no seu vôo,
Pareciam levar alguma Virgem... A aragem fria e fina arripiava
As arvor's e os nocturnos viandantes,
E retocava o brilho das estrelas. Os pinheiros gemiam surdamente;
E na face das pedras espelhada,
O luar abria n'um sorriso triste. Vultos negros, opácos de penedos
Erguiam se somnanbulos e mudos
No crepusculo, e olhavam como Esphinges... O Silencio reinava: era o Senhor
Da noite e da paisagem, e o seu Reino
Para além das estrelas se estendia... Por um longo caminho esbranquiçado,
Entre pinhaes sombrios e confusos,
A Morte cavalgava a largo trote. As patas espectraes do seu Cavalo
Ouviam se bater na terra dura
E sonora que o gêlo trespassava. E aquele ruido sêco, difundindo se
Na merencoria lividez do ceu,
O ensombrava de lagrimas e mêdos... E figurava o ar a feia Morte,
Envolta n'uma tunica de sombra,
Segurando na mão, só feita de ossos,
A Fouce, em cuja lamina lusente
Se espelhava o luar...
Seus fundos olhos
Encovados, volvidos para dentro,
Eram poços de treva, onde os morcêgos,
As estrellas, as arvores, as nuvens,
Iam ver sua imagem reflectida. Os passaros nocturnos, celebrando
A Noite nos seus cantos agoireiros,
Esvoaçavam de encontro áquelas orbitas
Vasias, descarnadas: dois buracos
Apagados de luz, sêcos de lagrimas,
Sobre um aberto riso empedernido. E a Morte cavalgava a largo trote,
Por um ermo caminho esbranquiçado,
No arrepio da Noite e do Misterio... O vento fino e frio maguava
As arvores, fazendo fluctuar
A tunica da Morte que envolvia
Seu corpo de esqueleto e as largas ancas
Do seu Cavalo, cuja sombra inquieta
E nervosa manchava a estrada clara. E atravessava agora um indeciso
Planalto, em formas vagas, emergindo
Da cerração nocturna dos pinhaes. As arvores fugiram... Simplesmente
Um rasteirinho tôjo agreste e bravo
Vestia de humildade aquela terra.
Nas suas hastes hirtas e espinhosas,
Aqui, além, por toda a parte, emfim,
Gôtas de orvalho, vivas, acordavam...
E em seus liquidos seios de esplendor,
Presentia se a lua encarcerada
Mostrando a face animica e divina. N'esta altitude o Vento, embrandecendo,
Era uma sombra alada... E a lua, a prumo,
Fulgia sobre a Morte que alongava
Os olhos pelo túrbido horisonte
Mais delido no céu e mais longinquo,
D'uma materia feita de chimera... De vez em quando, ouvia se um confuso,
Surdo rolar de rochas que desciam
Dos outeiros ás margens dos regatos;
Iam matar a sêde secular
Que lhes ficou dos tempos em que fôram
Raios de estrela florescendo a Lua. E vinham na asa múrmura da aragem
Bater de palmas, risos de cristal,
Rasgando agudas fendas no Silencio.
Eram Bruxas malditas, pobres Ninfas,
Amantes do Demonio em vez de Pan;
Amam a noite triste e os êrmos sitios...
Trocaram seu antigo amor divino
Pela ironia escura e demoniaca;
E as florestas sagradas e o sol claro
Pelos bócos profundos, pela noite,
Pelos silvaes espêssos e aguas êrmas
Que a sombra torna lividas e mortas,
E onde as cousas nocturnas se reflectem
Desmaterialisadas, redusidas
Ao seu simples e animico esqueleto... Continue reading book >>
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