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O vinho do Porto: processo de uma bestialidade ingleza exposição a Thomaz Ribeiro By: Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco (1825-1890) |
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Porto Imprensa Moderna CAMILLO CASTELLO BRANCO
O vinho do Porto PROCESSO D'UMA BESTIALIDADE INGLEZA EXPOSIÇÃO A THOMAZ RIBEIRO 2.ª EDIÇÃO
PORTO LIVRARIA CHARDRON De Lello & Irmão, Editores 1903 Propriedade absoluta dos editores Reproducção Interdicta
A THOMAZ RIBEIRO
Como sei que o teu amor ás perfidas trêtas e manhas da Inglaterra
não é dos mais acrizolados, venho offerecer ao teu sorriso um
SPECIMEN de bestialidade ingleza.
Ha trinta e cinco annos que um bretão anonymo lavrou na Westminster
Review a condemnação do vinho do Porto como deleterio e empeçonhado por
acetato de chumbo e outros toxicos anglicidas. O homem, pelas rábidas
violencias do estylo, parece ter redigido a calumnia depois de jantar,
n'uma exaltação capitosa do tannino do alvarilhão que elle confundiu com
as afflicções dos venenos metallicos. Relembra lamentosamente, com a
lagrima das bebedeiras ternas, o seculo dezoito, em que o genuino licor
do Porto era um repuxo de vida que irrigára a preciosa existencia de
grandes personagens da Gran Bretanha. Recorda Pitt e Dundas, Sheridan e
Fox, famigerados absorventes do nosso vinho. Diz que Lord Eldon e Lord
Stowel, graças infinitas ao Porto, reverdejaram e floriram em velhos; e
Sir William Grant, já decrepito, bebia duas garrafas de Porto a cada
repasto, para conservar crystallinamente a limpidez das suas faculdades
mentaes e a rija musculatura de todos os seus membros já locomotores, já
apprehensores, e o resto. Lamenta que Pitt, debil de compleição, com o
uso immoderado d'este tonico, e em resultado de plethoras frequentes
combatidas com ammoniaco e sulfato de magnezia, vivesse dez annos menos
do que viveria, se possuisse o incombustivel estomago curtido do
veneravel Lord Dundas. Succedeu, porém, ao collaborador da Westminster Review achar se
dyspeptico, com azías, relaxes intestinaes, eructações cloacinas, e o
craneo sempre flammejante como suja poncheira, com o encephalo em
combustão de cognac e casquinha de limão isto depois de saturações
copiosas dos vinhos adulterados do Porto uma mixordia negra , diz elle
afflicto; mas não sabe decidir de prompto se a degeneração está na raça
saxonia, se no vinho portuguez. Pelo menos e provisoriamente
considera se envenenado, o bruto. Pois o veneno que lograr infiltrar se nas mucosas inglezas deve ter a
potencia esphacelante da Agua Tufana dos Borgias. Em Inglaterra os
porcos engordam na ceva do arsenico. Que fibras de raça aquella! É que a
carne d'um bretão diverge muito da carnadura da restante Europa. O
anthropologo Topinard observou que a mortandade nos hospitaes inglezes,
em seguimento ás operações cirurgicas, era muito menor que a dos
hospitaes francezes. O sabio Velpeau, consultado pela Academia de
Medicina, respondeu que la chair anglaise et la chair française
n'etaient la même . E não dá a razão da differença, por que a não sabia
o grande biologo. Eu, na observancia do dictame do Espirito Santo, pela
bocca do Ecclesiastico «não escondas a tua sabedoria» illucidarei o
snr. Velpeau. A razão, a scientifica é esta: emborcações de bebidas
acidas, e mórmente de cerveja, combatem, como coadjuvantes do acido
phenico, a gangrena; ora, o inglez, abeberado de cerveja, é refractario
á podridão dos hospitaes. Como se vê, d'esta causal tão obvia um
anthropologo é capaz de espremer assumpto para volumes recheados de
coisas abstrusas sobre ethnographia, climatologia, morphologia,
mezologia, o diabo. Além da cerveja, a fibrina do porco, saturado de arsenico, entretecida
na fibrina do inglez seu compatriota, faz d'elle um Mithridates para os
saes de chumbo diluidos no vinho do Porto. O inglez não póde morrer por
ingestão alcoolica. Se quer suicidar se com instrumento liquido, tem de
asfixiar se, afogar se no tunel como o lendario Lord. Elle é immortal,
absorvendo; e só póde morrer absorvido. Estranho animal! E é senhor das
aguas e das melhores garrafeiras! O destino, pela tuba sonorosa de
Camões, disse ao inglez: Entre no reino d'agua o rei do vinho... Continue reading book >>
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