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Quatro Novelas By: Ana de Castro Osório (1872-1935) |
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Composto e impresso na Typographia França Amado, rua Ferreira Borges, 115 Coimbra. ANNA DE CASTRO OSORIO QUATRO NOVELAS A VINHA. A FEITICEIRA. DIARIO DUMA CRIANÇA. SACRIFICADA. COIMBRA FRANÇA AMADO EDITOR 1908 I A Vinha A VINHA Luis sahira para o colegio ainda criança e de lá para as escolas superiores; assim os anos tinham decorrido sem que nunca mais visitasse a terra natal. Dez anos, dez longos anos se tinham passado, e só agora voltava, como um foragido ou como um ladrão, que enlouquecido de saudades arrisca a vida e a liberdade para revêr a terra que primeiro conheceu e é sempre para o homem a mais querida, a mais bela, a melhor de todas. E pobre Luis! era na verdade como um foragido que voltava, escondendo se para que o não vissem, envergonhado dessa fraqueza sentimental que já não ia nada bem com os seus galões de guarda marinha e o seu bonito bigode a ensombrar lhe o labio superior. E voltava amesquinhado aos seus proprios olhos, elle que se julgava tão importante pelos estudos transcendentes, que seguira com certo brilho, porque só agora compreendia o sacrificio de cada momento, a luta de cada hora, o verdadeiro heroismo obscuro e respeitavel que a sua educação representava na vida da familia. Compreendia, afinal, um pouco tarde demais para que a consciencia lhe ficasse limpa de remorso, quanta mentira santa fôra preciso inventar, com quanta delicadeza envolver as palavras, quanta historia arquitétar para que elle aceitasse sem desconfiança o propositado afastamento em que o tinham conservado durante esse longo periodo de tempo. Chegara por vezes a pensar, as poucas ocasiões em que reparara nisso, que o desprezavam, que era um pária, que os pais afastavam receando a vergonha de o apresentarem como seu herdeiro e continuador. Dizia lhe a consciencia que tal procedimento não era justo, porque se é verdade que não fôra nunca um estudante desses que se mostram com desvanecido orgulho, carregados de distinções e premios que esmagam o proprio dôno e irritam os companheiros, é certo que o curso lhe sahira limpo, seguido como de empreitada, numa indiferença risonha de quem o levava com uma perna ás costas. Lembrava se de pensar ás vezes no facto, um tanto irritante, do seu afastamento sistematico da casa paterna, e pôr se consigo a acusar os pais; mas á mais leve referencia acudia uma carta de Eduarda, que varria do seu coração, voluvel e bondoso, a desconfiança cruel. Era sempre a mesma delicadeza inteligente, procurando as palavras para não maguar nem esclarecer, fugindo graciosamente duma pergunta mais nitida, dizendo pouco em longas cartas, que satisfaziam plenamente a sua ansiedade de momento mas muito deixavam escondido nas dobras duma alma que se não pode expandir, sob pena de infelicitar os outros. Eduarda, apenas mais velha dois anos do que Luis, fôra desde criança uma pequena figura simpatica de mulher, dessas mulheres adoraveis sem deixarem de ser profundamente humanas, ou talvez por isso mais adoraveis ainda, que tudo compreendem, por tudo se interessam, para todos são a providencia, o refugio e a esperança. Quando fôra resolvida a sua entrada para o colegio militar, Luis ficara radiante. É que essa admissão fôra o seu maior empenho, a ambição de largos mêses e dias desde que na terra aparecera, a proposito de qualquer festa pública, um regimento de lanceiros, que o tinha enlouquecido com o seu ar soberbamente marcial e as bandeirolas, vermelho e branco, a panejarem ao sol. Não pensava noutra coisa senão naquella sua entrada para o colegio em que todos os alunos são já pequeninos homens, pequeninos militares de botões reluzentes, barretina, dragonas, e duma compostura grave de disciplina rígida. Fazia projectos, contava as peças do enxoval, que a mãe lhe ia empilhando na mala, lia e relia a relação das coisas que lhe mandavam levar e prometia a si mesmo só quebrar o seu, mialheiro de barro quando tivesse já a farda, para ir tirar o retrato de grande uniforme... Continue reading book >>
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